Paralelepípedos

23:25

O trem parou na estação número 6, por ironia do destino é meu número da sorte, o que na verdade até agora não me trouxera nada de sorte. A minha mala de rodinhas parou de andar, "droga!" pensei enquanto me abaixava para arrumar a rodinha direita. Ao me levantar vi que tinham roubado meu casaco, e começou a bater um vento com uma temperatura que nunca tinha sentido. Sai da estação, e peguei um táxi. Cheguei no hotel, e ao chegar no quarto deitei-me na cama com as roupas que estavam no meu corpo desde a hora que saí de casa ontem, um pouco antes da viagem acontecer. Olhei a grande janela do quarto, a cortina estava aberta, e a janela mostrava desde as luzes mais de perto, até as mais distantes parecendo os pisca-pisca das árvores de Natal.



Acordei, e peguei meu celular, marcava exatamente 21:45, levantei e tomei um banho. Peguei o primeiro vestido da mala, um vestido bem simples, era todo preto e no centro do decote um pequeno coraçãozinho feito de brilhantinhos. Desci do meu andar, e sai andando pela cidade, quando em uma rua iluminada por pisca-pisca de Natal( sim, dessa vez eram os pisca-piscas), tinha um grupinho de pessoas, e quando eles me viram, chegaram na minha direção. Uma menina com um vestido branco começou a falar:

- Olá, qual seu nome?- dizia ela com um sorriso misterioso.
- Meu nome é Olívia, prazer- falei apertando sua mão timidamente.- Qual é o nome de vocês?- falei apontando para todos eles, todos impecáveis nas suas roupas, e com um Q a mais de beleza que eu sempre desejara, e nunca tive.
-Olívia, bem eu sou Jess, e esses são Sebastian, Matthew e ela é Aria, somos as pessoas mais legais que você pode conhecer na cidade, você é daqui?- perguntou curiosa, e seu jeito desinibido só me fez me sentir mais confortável.
-Sou de Prezzi, um país no sul da América, mais especificamente na cidade de Monitcheli.
-Eu nunca ouvi falar nessa cidade, ou país...- disse Matthew lentamente, a voz dele era rouca também, ele tinha um ar charmoso de britânico, deve ser mesmo britânico.-  Mas, se as meninas do país forem iguais à você, acho que já sei qual é meu próximo destino...- corei ao ouvir essas palavras tão simples e clichês, quem sabe eu corei pelo fato de não receber um elogio bobinho desses faz tempos...
-Olívia, não sei você, mas nós gostamos de sair andando pela cidade sem um destino, quer ir com a gente?- falou Aria animadamente, a única coisa que consegui fazer foi afirmar.

Saímos andando pelas ruas, vimos alguns brechós, livrarias e cafeterias. Aria tinha uma mania de vinis, saiu de um antiquário com 3 sacolas. Sebastian, o mais quieto e observador, também era fotógrafo, e quando eu menos esperava um flash estava na nossa direção. Matthew era conversador, e pelo jeito social, perdi as contas das vezes que fomos parados porque alguém vinha falar com ele. E por fim, Jess, ela é meio louquinha saia cantando e dançando pela rua, arrancando sorrisos e aplausos por onde passava. Não sei onde eu me encaixava.

Enquanto todos andavam na frente, eu ia atrás observando esse grupo, quem sabe é um lugar onde eu possa me encaixar futuramente... A minha estadia aqui pode ser longa... Ou pior, eu posso me apegar a eles, e no dia seguinte terei que partir, igual da última vez... Caminhava olhando para o chão, e quando vi Sebastian estava do meu lado.

-Cidade nova é complicado... Pelo menos você tem companhia- Sebastian disse dando um largo sorriso.- O que te trouxe aqui Olívia? Deve haver algum motivo para uma moça como você venha parar nesse fim de mundo que eu chamo de casa.
-Acho que foi a vontade de ter liberdade...- paramos, enquanto o resto do grupo andava.
-E você tá conseguindo?- Sebastian olhou nos meus olhos, e que olhos eram aqueles? Era um verde profundo, que contrastava com seus cabelos castanhos escuros.
-Como você disse, cidade nova, é complicado- falei dando um riso irônico.
-O que poderia melhorar?- falou chegando mais perto de mim, de novo não...
-Só o tempo dirá...-falei desviando o rosto
-Ei, o tempo não cura tudo...- nesse momento Sebastian pegou levemente meu rosto, o colocando de frente ao seu.- Se quiser, eu estarei aqui...- aproximando mais um pouco, fazendo os nossos lábios se chocarem  por 2 pequenos e rápidos segundos. Recuei.- Fiz algo de errado?
-Eu que fiz de errado...- olhei pro chão, e depois para Sebastian, aquele rosto me lembrava o...esquece ele Olívia- Eu só não estou pronta para amar, ou me iludir.
-Desculpa Olívia, a gente se conheceu não faz nem algumas horas...- Sebastian foi se afastando e andando rápido.
-Você não sabia...- peguei no seu braço para não faze-lo andar- Vamos começar de novo... Prazer, meu nome é Olívia.- estendi minha mão e dei um riso rápido.
-Prazer, Sebastian- ele pegou na minha mão e a beijou- Cidade nova é complicado...Pelo menos você tem companhia...- rimos das bobas brincadeiras que estávamos fazendo- Gostaria de um café, senhorita?- estendendo seu braço para mim.
-Sim...- entrelacei nossos braços, e fomos andando calmamente até o fim dessa rua de paralelepípedos mal organizada- Não acha que a noite está maravilhosa?
-Sim, senhorita, mas seu sorriso está mais maravilhoso que o brilho do luar.

Sorri, e continuamos andando até chegar em um café qualquer.

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